Dia do Circo: conheça a história de Piolin, palhaço que inspira a data no Brasil

  • 27/03/2024
(Foto: Reprodução)
Artista nascido em Ribeirão Preto inovou na linguagem circense e ganhou admiradores do movimento modernista nos anos 1920. Cidade natal mantém praça com monumento em homenagem a ele. Palhaço Piolin se prepara para apresentação Coleção Família Pinto/Acervo do Centro de Memória do Circo Imagine a cena: um afinador de pianos é contratado por uma família abastada, em meio a um jantar. À mesa, nunca podem se sentar 13 convidados ao mesmo tempo, por mera superstição dos anfitriões, que passam a usar o desconhecido prestador de serviços como solução para o impasse numérico: ora o convidam para fazer parte do encontro, ora o desconvidam. Enquanto a esquete se desenrola no picadeiro, a plateia, aos risos, se vê representada nos movimentos e gestos do protagonista. Faça parte do canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Há 127 anos nascia em Ribeirão Preto (SP) Abelardo Pinto, mais conhecido como Palhaço Piolin. Pela inovação, pela representatividade popular e admiração entre os expoentes do movimento modernista brasileiro, a data de nascimento dele, 27 de março, é lembrada anualmente como o Dia do Circo desde 1973, a princípio como iniciativa do estado de São Paulo, depois replicada por outras regiões do país. Com uma carreira de mais de 50 anos dedicada à comédia, sobretudo na capital paulista, Piolin deixou marcas na história das artes brasileiras como uma figura que rompeu padrões e difundiu uma linguagem própria em um dos períodos mais promissores do circo brasileiro e que defendeu seu ofício até pouco antes da morte, por problemas cardíacos, em 1973. "Ele consegue ter a simpatia de uma cidade toda como São Paulo e também dos grandes artistas, ele faz a ligação entre o popular e o erudito", afirma Veronika Tamaoki, diretora do Centro de Memória do Circo em São Paulo. A seguir, conheça um pouco mais sobre a trajetória do Palhaço Piolin: 🎪Nascido e criado no circo Praça de Ribeirão Preto, SP, homenageia palhaço Piolin Em 27 de março de 1897, o Circo Americano, do empresário Galdino Pinto, estava de passagem por Ribeirão Preto, se instalando na Rua Barão do Amazonas, hoje uma das principais no Centro da cidade. Era um sábado, dia de apresentação, e a mulher dele, também artista e atiradora de facas, Clotilde Farnesi, estava à espera de uma criança. Naquele dia, nascia Abelardo Pinto, um dos três filhos do casal, mais tarde conhecido em todo o país como Palhaço Piolin. A companhia estava apenas de passagem, mas a ligação com o município paulista ficou eternizada com Piolin se tornando patrono da cadeira 29 Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto (Alarp). Monumento em homenagem ao Palhaço Piolin, em Ribeirão Preto (SP) Thaisa Figueiredo/g1 Além disso, o Monumento ao Palhaço Piolin, com painéis do artista plástico Roberto Bérgamo, evidencia a ligação do ícone circense com a cidade na Praça Jair Yanni. O nome da praça, por sinal, faz referência a uma importante biógrafa do palhaço, falecida em 2012, que ocuparia a cadeira dele na academia de letras da cidade. “Quando alguém assume dentro da Academia de Letras, tem que fazer um discurso, um trabalho sobre o seu patrono. E Yanni foi além desse trabalho, ela se apaixonou tanto pela história que ela acabou fazendo uma pesquisa, um livro", afirma Eliane Ratier, presidente da Alarp. 🤡Do contorcionista ao palhaço Criado dentro do universo mambembe, Abelardo trabalhou desde criança diferentes habilidades na companhia do pai, entre elas o contorcionismo, com que chegou a atuar, mas parou depois de ficar entalado em uma cadeira. Também chegou a se aventurar como ciclista em uma estrutura que hoje lembraria uma espécie de "globo da morte", mas foi como palhaço que ele se encontrou. “Ele entrou para substituir um palhaço que estava doente, porque, com o ambiente de circo, ele também fazia malabarismo, um pouco de música, um pouco de tudo. E aí ele estreia substituindo um dos palhaços que estava doente”, afirma Eliane Ratier, presidente da Alarp. Painel do Palhaço Piolin, em Ribeirão Preto (SP) Thaisa Figueiredo/g1 Segundo o professor e pesquisador Walter de Sousa Junior, autor do livro “Piolin: o Corpo e a Alma do Circo” (2013), Piolin começa primeiro se apresentando como "Careca". Na década de 1920, ele é contratado pelo Circo Queirolo em São Paulo, onde substitui o então conhecido Palhaço Chicharrão, que havia deixado o grupo para atuar no Rio de Janeiro. Foi nesse período que ele também passa a se apresentar com o nome que o consagrou: Piolin é barbante em espanhol e era um apelido que ele havia recebido como referência às brincadeiras que faziam com relação à espessura das canelas dele. "Ele estreia em 1923, fica dois anos e faz um baita sucesso. Ele está substituindo o Chicharrão e se dá muito bem", afirma Sousa Junior. Ao longo de sua trajetória, Piolin ainda se apresentaria pelo Circo Alcebíades e fundaria sua própria companhia, ficando conhecido por permanecer por anos se apresentando na região central e zona oeste de São Paulo. Palhaço Piolin durante apresentação Acervo do Museu da Imagem e do Som de São Paulo Segundo Sousa Junior, Piolin foi expoente de uma segunda geração de artistas circenses do país, até então influenciado por famílias de origem europeia que aqui se estabeleceram a partir do século 19. "Piolin tem uma grande vantagem, porque teve contato com importantes famílias que atuavam no Brasil. Pelo menos três outras fazem parte da formação dele como palhaço. A família Pereira, que vem de Portugal, a família Seyssel, do Palhaço Arrelia, e a família Queirolo, do Palhaço Chicharrão", explica. 😄O riso e o espelho do trabalhador Com nariz vermelho, roupas e sapatos largos e disformes, mas ao mesmo tempo comuns a um trabalhador no início do século 20, e repleto de trejeitos, Piolin se enquadrava no estilo chamado de "excêntrico" ou "augusto", que despertava o riso por meio do que era considerado grotesco para os padrões da época, em contraponto à atuação mais sutil do "clown" (que nada mais é do que palhaço em inglês). Mas, muito além das pequenas entradas - uma das formas mais comuns de apresentação de palhaços no circo - Piolin performava esquetes próprias mais duradouras que tinham um enredo como base e muita improvisação. “Ele ficou conhecido exatamente por conta desse tipo de apresentação. Ele usava muito malabarismo e usava muita expressão facial. E a temática dele era uma temática do homem brasileiro, do dia a dia do brasileiro. Ele fazia a graça com os assuntos nacionais, com o tipo físico, tipo do homem regionalista brasileiro", diz Eliane. No centro da narrativa, as histórias contadas se referiam a costumes e geralmente colocavam a figura do palhaço como o personagem pobre, mas sempre com um final feliz, como do pai que, falido, tenta arranjar um casamento com alguém proeminente para a filha, que na verdade está apaixonada pelo palhaço. "Era o empregado da família que fazia as coisas acontecerem. Era um espelho do que todo mundo queria fazer mas não podia, ele tinha essa grande popularidade em função dessas características, do que ele representava no circo", afirma Sousa Junior. Para o grande público que o assistia, formado por operários e famílias de baixa renda que tinham no circo uma opção de lazer mais acessível do que o cinema, a atuação tinha um efeito catalisador: era possível não só ter uma perspectiva positiva para a difícil realidade social como também rir sem medo de represálias dos patrões. "As famílias podiam rir alto no circo. (...) Era como uma válvula de escape dessas pessoas que trabalhavam nas casas com regras rígidas", diz. Piolin também tinha recursos próprios como a interjeição "Ih!", para sinalizar que algo não estava bem e a capacidade de montar cenas sem verbalizar, como o número conhecido como "o namoro dos sabiás". "Ele está vestido de passarinha, e aí tem o outro palhaço, que fazia o clown dele, e é um galanteio só com assovios. Tem uma hora que ele começa a chorar, levanta a saia, pra enxugar as lágrimas, o pessoal cai na risada porque ele está levantando a saia. Era um clássico dele." 🎨O palhaço admirado pelos modernistas Piolin circulou relativamente pouco, com uma atividade muito concentrada na capital paulista e no interior de São Paulo - antes de se mudar em definitivo para São Paulo nos anos 1930 ele chegou a fixar residência da família em Orlândia (SP), segudo Jair Yanni - , teve poucas aparições na TV e não era um nome conhecido no exterior, mesmo com toda a repercussão de seu trabalho. "É uma das mais completas traduções de São Paulo, uma expressão muito paulistana. (...) Ele não foi um palhaço que viajou o Brasil inteiro, ficou 20 anos em um terreno, 20 em outro terreno. Foi um palhaço bem paulistano”, afirma Veronika Tamaoki, diretora do Centro de Memória do Circo de São Paulo. Mas a espontaneidade de sua arte e a capacidade de romper com os padrões foram o suficiente para chamar atenção de poetas, escritores, artistas e intelectuais que ajudariam a fundar o Modernismo e a promover a Semana de Arte Moderna, na década de 1920. "Eles estão buscando outra forma de linguagem. (...) É uma busca do modernismo, dos movimentos de vanguarda, da entrada do século 20, que encontram no circo muito do que eles buscam, na ruptura", afirma Veronika. LEIA TAMBÉM Caverna do Diabo, incêndio e reforma: conheça curiosidades da história do Theatro Pedro II Kiko Zambianchi anuncia turnê que celebra os 25 anos do acústico da banda Capital Inicial Segundo Sousa Junior, isso aconteceu depois que o poeta belga Blaise Cendrars viu uma apresentação de Piolin no Circo Alcebíades, então instalado no Largo do Paissandu, centro de São Paulo, em 1926, e convidou amigos, que faziam parte do movimento modernista, para conferir o que ali acontecia. Di Cavancalti, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral são alguns dos convidados que estavam na plateia e se surpreenderam com o que viram. Além de textos enfatizando o valor artístico do circense, três anos mais tarde os modernistas organizariam, em 27 de março, um almoço em homenagem ao aniversariante Piolin, então com 32 anos. "Oswald de Andrade fez uma coisa chamada 'Festim Antrofofágico', ele fez uma festa que juntou juntos intelectuais para celebrar e para comer simbolicamente Piolin, aquela coisa da antropofagia de Oswald de Andrade. (...) Foi um reconhecimento dos intelectuais da contribuição do circo dentro do projeto modernista. Isso reforçou a influência do circo e da data, quando foi escolhido dia 27 de março o Dia do Circo", afirma Sousa Junior. 🤡Paixão até o fim da vida Depois do Circo Alcebíades e de uma breve passagem pelo Teatro Boa Vista, Piolin fundaria uma companhia com o próprio nome e com a qual se apresentaria até os anos 1960 em São Paulo. Na última década de sua vida, aos poucos, Piolin foi reduzindo sua atividade circense, mas nunca a abandonou de vez, atuando principalmente como convidado. Circo Piolin no Belvedere do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 1972 Luiz Hossaka/Acervo do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi/Casa de Vidro “Na época que o circo começou a ficar decadente e a televisão começou a ascender, tentaram levar o Piolin para TV e pro rádio, mas ele não se adaptou, o negócio dele era o público no circo mesmo”, diz Eliane. Em 1972, se apresentou em um circo montado no Museu de Arte de São Paulo (Masp), como parte de uma série de atividades em sua homenagem e das comemorações do cinquentenário da Semana de Arte Moderna. Um ano depois, ele morre aos 76 anos, deixando seis filhos, 12 netos e três bisnetos, segundo registros da biógrafa Jair Yanni, citados por Eliane Ratier. "Ele ainda estava vivo quando recebeu essa homenagem. Ele foi um grande lutador pela popularização das artes circense, pela manutenção dessa arte. O sonho dele era que fosse criada uma escola de circo”, afirma Eliane. Hoje, além da data que celebra o circo, a história de Piolin está guardada em livros e pesquisas, como de Jair Yanni e Walter de Sousa Junior, além de documentários e curtas como "Sua Majestade, Piolin" (1971). Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região| em G1 / SP / Ribeirão Preto e Franca

FONTE: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/em-cena/noticia/2024/03/27/dia-do-circo-conheca-a-historia-de-piolin-palhaco-que-inspira-a-data-no-brasil.ghtml


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